Histórias 1

 Chel de primeira

2011-07-10 01:11

 Corre, corre, corre, corre.

A mente de Krissima se prendia na palavra, como se receosa de pensar além. O medo a impelia para frente, mas se se permitisse chegar ao terror este iria a paralisar.

Os pés agéis e o conhecimento do bosque lhe davam uma certa vantagem sobre o seus perseguidores, mas os Capuzes Vermelhos tinham merecido a sua reputação de sempre encontrarem as suas vítimas. Ofegante, o seu bafo saia branco na noite fria, deixando um pequeno nevoeiro na sua passagem.

Corre, corre, corre.

Um ramo baixo bateu-lhe acima da sombrancelha. Sem abrandar, Krissima passou distraidamente a mãe pela testa e sentiu-a escorregadia de suor e sangue. As suas roupas já tinham vários rasgos e o seu cabelo estava em desalinho, vários pequenos pedaços do seu couro cabeludo doiam onde pequenos tufos de cabelo haviam sido arrancados pelos ramos inferiores das árvores. O baque dos seus passos no chão começaram a fazer as suas pernas vibrarem, e pouco depois suas pernas estavam em fogo. O medo e o esforço fazia, o seu sangue correr mais rápido e Krissima não conseguia ouvir mais nada além do bater do seu próprio coração e o ar a sair forçosamente dos seus pulmões.

Ao pular por cima de uma árvore caída Krissima sentiu uma mão forte puxa-la pelo cabelo e não conseguiu segurar um pequeno grito de dor. Outra mão, suja de terra e pequenos galhos cobriu-lhe a boca impendindo-a de soltar outro grito, largando o seu cabelo o estranho envolveu-a com o braço, puxando-a para si.

– Shiu! – O seu atacante sussurou-lhe ao ouvido.

Adrenalina e puro pânico ainda bombeavam nas suas veias e Krissima lutou com todas as suas forças o homem que a agarrava por detrás.

– Pára quieta! Queres que os malditos Capuzes nos oiçam?

Com o seu calcanhar Krissima pisou com força o pé do homem, e deu-lhe com o cotovelo no estômago, fazendo-o expelir o ar do pulmão. Mesmo assim o braço envolvendo-a não relaxou o seu abraço.

– Krissima Matxer! – O homem disse, sacudindo-a. – Tomilo mandou-me para ajudá-la. Pode confiar em mim.

Ao ouvir o nome de Tomilo, Krissima parou de lutar. O homem respirava fundo e Krissima podia sentir as correias das suas malas picarem-lhe as costas. Agora que os dois tinham parado de lutar, Krissima podia ouvir os sons que os Capuzes faziam perseguindo-a. Ainda se encontravam longe, mas não lhes seria difícil seguir a passagem de Kris pela floresta. Na sua fuga pela vida, Kris não tinha se preocupado em disfarçar o seu rasto.

Ainda em voz baixa, o homem voltou a falar com ela.

– Krissima Matxer, meu nome é D’jael Veiner. Tomilo soube que estava em perigo e pediu-me que viesse ajudá-la, mas para fazer isso preciso de ambas as mãos. Posso confiar em ti para não fugir?

Kris acenou e o homem aos poucos soltou-a, devagar como se com medo que ela tentasse fugir novamente. Quando este a soltou por completo, Krissima deu meia volta mas ficou no mesmo lugar a tentar decidir o que fazer. Este homem, D’jael Veiner ele lhe tinha dito, sabia que ela conhecia Tomilo e mas ninguém poderia saber isso a não ser que o próprio Tom lho tivesse dito. Ela ajudava quem podia para a organização, mas não tinha conhecimento interno o suficiente para ser de interesse para os inimigos de Vivere. Por enquanto, Kris decidiu, iria confiar em D’jael.

Quando pareceu satisfeito que Kris não iria tentar fugir, D’jael afastou-se, parecendo procurar algo no chão. Rapidamente encontrou o que queria e voltou em segundos carregando um ramo fino partido. Os sons de perseguição estavam cada vez mais próximos e Krissima olhou em volta, o medo a entrencortar-lhe a respiração novamente. Quando voltou a olhar para D’jael este tinha delineado um círculo a volta da árvore, grande o suficiente para que os dois pudessem caber dentro dele e se encontrava agachado no meio do círculo, a mão direita no chão. Sua face impassível e os olhos vagos, somente os seu lábios mexiam, numa torrente de palavras num tom tão baixo que Kris não conseguia ouvir. Um feixe de luar permitia-lhe ver os olhos castanhos de D’jael, desfocados como se estivesse a olhar para outro mundo, ou para dentro de si mesmo.

Subitamente um flash de verde passou-lhe pelos olhos, preenchendo a íris, em redor da pupila. Surpresa, Kris deu um passo para trás. Nunca tinha visto magia Verde antes, Magos Verdes eram suposto estarem extintos! D’jael olhou para cima quando ela se moveu, lentamente ele se levantou e com as palmas das mãos para fora, como que para mostrar que não havia nada a temer, falou baixo:

– Não há nada temer. Não sou um Mago mau. É simplesmente um círculo de protecção. Os Capuzes não nos poderão encontrar, mas ainda podem nos ouvir, por isso preciso que fiques em silêncio até os meus companheiros nos encontrarem. Ficaremos aqui até amanhecer. Entendes?

Aturdida, cansada e com a cabeça à roda, Krissima ainda conseguiu acenar antes de desmaiar.

 Rachel Lopes